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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A arte existe porque o mundo não é perfeito


“A arte existe porque o mundo não é perfeito”

            Já bastaria esta frase para uma investigação profunda que resultaria em um instigante TCC, um mestrado e um doutorado. E merece o empenho de uma vida  inteira de investigação. Ainda que, provavelmente, não se chegue a uma conclusão assertiva.

            Numa típica ação, da somatória do falho  sistema de ensino,  mais o desleixo do jeito brasileiro de aprender, mais as minhas deficiências cognoscitivas, anotei a frase  em uma aula, e não me ative o suficiente para identificar o autor  para dar-lhe o merecido crédito.

            Sou um ser humano “fisgado” pela arte há 36 anos e venho tentando decifrar o cerne desta frase, sem saber conscientemente que o fazia. A Licenciatura em Artes visuais, aquietou em mim várias turbulentas experiências que a vida prática de um artista autodidata  vive, sem saber ao certo, identificá-las, classificá-las e apaziguá-las
no frágil e complexo receptáculo do seu corpo.

            De início, tive uma revolta contra o Estado, pois ao aprender como se deu a educação no Brasil,  pude entender que fui lesado em minha existência, no final da adolescência, por não ter sido preparado o suficiente para ingressar em uma Universidade e que isso foi por muitas décadas ou, séculos até, privilégio de uma classe elitista, excludente e retentora dos direitos do cidadão comum. Chorei ao pensar que meus tios-avós, homens comuns nascidos no nordeste, guerreiros na labuta, foram tolhidos semelhantemente do direito à plena formação acadêmica. Alguns se tornaram alcoólatras, provavelmente pela frustração de não saberem e nem poderem realizar suas potencialidades.

            Tudo o que li, vi, ouvi e fiz nestes três anos, me serviram imensuravelmente para melhor compreender a vida e a arte. Sou grato aos professores e aos colegas por fazerem parte deste processo. Tudo isso me capacitou a tentar criar as condições de outros tantos seres humanos  poderem  conhecer e desvelar suas trajetórias e juntos nos aproximarmos mais de saber se a arte existe porque o mundo não é perfeito.


                                                                                  Grato a todos!

                                                                       Manoel Plácido, dezembro de 2011.

Um comentário:

Renata Eboli disse...

Fico feliz que sua experiência acadêmcia tenha dado mais do que conhecimento, mas, clareza. Com certeza, esse é um tesouro imensurável, parte da opção de vida que fez. Afinal, cada um junta para si as riquezas que quer.

Um beijo, com muita admiração e orgulho.
Parabéns por mais essa batalha terminada.
E que venham outros desafios.
Te amo,