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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Resposta ao artista Nuno Ramos

Nuno Ramos, algumas considerações pertinentes ao seu texto, que alguns professores de arte-educação estão repassando via Web, sem dúvida nenhuma seu trabalho exposto na 29ªBienal de artes provoca reflexões e resolvi externá-las assim como você e vários cidadãos fizeram.
Primeiramente penso que seu  trabalho não foi atacado por um pichador , e sim alguém (corajoso)  rompeu a grade de “contenção” e  protestou escrevendo com spray,  o que sentiu sobre o seu trabalho.
Você, com sua justificativa,usou tantas palavras para, em suma, dizer: “- Pobres mortais! Não entendem a arte que faço!” aliás, esse pensamento é recorrente entre os artistas contemporâneos,  entre os seus  (pretensos) entendidos e seus representantes “marketeiros”.
A comparação que você fez de: Picasso com “Guernica” e a direita franquista, mais a “Olympia” de Manet e a aristocracia francesa, demonstra qual o patamar que você está querendo atingir. Mas, meu caro! Picasso, não precisou usar nem sangue humano, nem corpos reais trucidados para impactar as pessoas com a denuncia das atrocidades de uma Guerra civil. Nem Manet, usou uma modelo nua, no vernissage de sua “Olympia”. Aliás, os dois artistas mencionados usaram o que, a maioria dos artistas de hoje não conseguem usar e nem causar tamanho impacto, “tintas e telas”, sim, isso mesmo,a tão simples e esquecida técnica da “pintura”. Sem contar as dimensões desses trabalhos. Parece que os artistas contemporâneos crêem que quanto maior for o espaço para o seu trabalho, mais ele causará “barulho”. Isso, as obras de Picasso e Manet desmentem.
Se você abrisse mão de todos os seus pré-conceitos, talvez, conseguisse entender como os cidadãos estavam interagindo com o seu trabalho.
Por que você pode pensar diferente? e o cidadão que observa seu trabalho não pode???
É da arte que emana um signo aberto para que fanatismos não circunscrevam completamente o possível da vida”, não foi essa reflexão que você propôs no seu texto? Pratique-a!
Em outro trecho, você externa seu desejo assim:
“...gostaria que fossem suficientemente democratas para aceitar que nem todos pensem como eles...
Gostaria que fosse suficientemente democrata para aceitar que nem todos pensem como você, Nuno Ramos. (Parodiando seu raciocínio).

Dei aulas de desenho para uma meninada na favela de Heliópolis, e quando uma criança distraída derrubava no chão, sua folha de sulfite em branco, três outras crianças próximas, se atiravam sobre a folha para tomá-la para si, gritando: -“Perdeu, quem pegar é o dono!”.
Tamanha a carência de recursos, assim era o procedimento padrão: Brigavam por uma folha de sulfite, mesmo sabendo que  aquela, tinha dono, e que haviam mais folhas.
Fico tentando calcular os custos desse seu trabalho exposto na Bienal, e penso o quanto um valor equivalente poderia servir, para atingir um número maior de crianças da periferia, e através da expressão artística delas, ajudá-las a se perceberem e se formarem cidadãos críticos.
Mas o que percebo nesse seu pensamento:
Mas penso que é isso mesmo que ela (a arte) deve manter: sua soberba e seu arbítrio, para que possa continuar criando.
É que essa “arte” ao qual você se refere, é a “arte”- brinquedo para poucos privilegiados (obterem verbas públicas) para continuarem criando.

Ainda você conclui:
Daí, creio, a ferocidade com que fui atacado -uma espécie de operação higiênica preventiva, para impedir que qualquer germe de espanto, ambiguidade, beleza, estupor, pudesse aparecer, desqualificando o desejado consenso.
Então!? Você achou o que procurava com seu trabalho, e não está aceitando. As pessoas que protestaram, interagiram, e te devolveram  as sensações que você buscava oferecer a elas! Aceite-as!

“ O que você (Nuno Ramos) está vendo, NÃO é o que você esta vendo”

“Bandeira branca, amor!”



Manoel Plácido.

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